quarta-feira, julho 30, 2003

Privacidades e outras coisas privadas

Está na hora. Parafraseando Adriana Calcanhoto, “vamos revelarmo-nos”. Vamos lá a saber, para cada um de nós, quem é o quê, de que é que efectivamente gosta, ... e, bom, a que Supremo Tribunal gostaria de pertencer.
Não faltaria mais nada, não ? Pertencer-se, a bem dizer, a uma minoria – ou a várias – e guardar isso bem guardadinho!? Mas os amigos sabem, não é ? E só dizem a quem interessa, não é ?
Não Senhor! Tudo cá para fora. Se és homossexual tens o dever de o expor. Se és nobre tens o dever de o dizer. Claro! É que a maioria não é nada disso, e se queres “dizer a justiça” mas não alinhas com a maioria, pelo menos terás que o afirmar. Caso contrário, somo todos enganados, não? Um dia chega-te o meu recurso e eu sei lá o que motiva a tua decisão ? A justiça da maioria é que não é de certeza – não lhe pertences, porra!
O quê ?!? Eu ? O que é que eu interesso nesta história toda ? A minha história ? O que é que eu poderia ter a dizer ? Não sou político, não sou juiz, não sou juiz-político nem político-juiz! Esses é que têm a obrigação da moralidade. Mais: de a declarar, como as continhas todas que para aí andam escondidas e os rendimentos que afinal o não são! Agora eu ... eu cá preciso é de modelos, que eles dêem o exemplo.
Ah ?! Vergonha ? Vergonha de quê ? Vergonha era viver num país onde só se sabe do que é que eles gostam quando já é tarde, pá ! Quando já nos deram com força, não é ? Isto hoje ninguém sabe ... Não me digas que achas bem que um tipo seja juiz, para mais do Supremo, sem a gente saber o que ele é !? Brinca, brinca, qualquer dia bate-te à porta ...
Deixa essa conversa do meu filho, pá ! Isso é outro assunto que não é para aqui chamado. Querias o quê ? Metia-se entre mim e a mãe e depois ia p’rós copos sem mais nem ontem ? Se ao menos gostasse de gajas eu falava-lhe a sério, mas nem nisso saiu a mim! Só se perderam as que não dei. Ao menos tirei-lhe da cabeça essas ideias de ser juiz e fazer o curso do não sei quê ... Já viste a vergonha que eu passava ? Ficava tudo a saber e eu tinha que ir beber a bica a Cacilhas.
É verdade, pá. Aquela coisa de sexta-feira ..., não comentes isso com ninguém. É que nós não temos que declarar isso no emprego, e assim ..., bem, escusam de ficar a saber.

TRISTE SINA A NOSSA: uns não prestam na privacidade, outros sentindo-se compelidos a autodevassá-la porque os outros não prestam na privacidade. E assistimos impávidos porque ainda não nos sentimos obrigados a mais do que vamos fazendo.

Tablóidização da sociedade

Depois de ter já recebido sarcasmo e ironia suficientes e de farpas avulsas provindas de várias esferas, convém aos demais ficarem esclarecidos. No fim a graçola baça atinge consequente e desnecessariamente outros.

A verdade é que depois dos reality shows terem entrado nas redacções de jornais e telejornais a precisão nunca mais foi a mesma: a tablóidização da sociedade parece imperar por aprendizes de jornalismo. Abaixo a falta de rigor.

terça-feira, julho 29, 2003

Tremores Sensoriais

Telejornal da RTP: notícia sobre o sismo de 5,4 na escala de Richter, com epicentro a cerca de 150 km sudoeste do Algarve, mormente sentido nessa região por volta das seis da manhã durante três minutos.

Entrevista de rua da jornalista a várias pessoas questionando se tinham sentido alguma coisa, uma delas (uma senhora dos seus cinquenta e tal anos com outra amiga aparentando a mesma idade):

«ai sim, senti sim senhora!...aquilo abanava tudo, a cama, o armário, o chão...só que eu não disse nada...»

Minha senhora!: quando tudo abana, inclusive o chão, o mais certo é mesmo ser um tremor de terra!, pois Godzilla não tem aparecido ultimamente...Mas se os seus pensamentos a levaram para aqueles seus vizinhos, os do segundo esquerdo, que numa actividade matinal fizeram estremecer as placas tectónicas...então está desculpada!

Mas não disse nada...porquê? Não me diga que não quis maçar o seu marido sobre os estremecimentos alheios e fosse ele julgar que estava também interessada?, e nisto ele ressonava que nem um berbequim...

Portugal no seu melhor, adoro!

Vende-se

A Casa do Benfica na world wide web está para venda. Aproveitem: sempre é uma dotcom! A base de licitação é de €125,000,000., e até não está nada caro pois a universalidade benfiquista é grandiosa. A receita reverte para tentar reaver o novo estádio.

Na compra deste domínio está incluído o seguinte: três braçadeiras de capitão usadas pelo Simão, dois pares de chuteiras que eram do Pembridge, cinco pneus de tractor, duas cadeiras vermelhas (onde se costumavam sentar António Guterres e Manuel Monteiro), um barril de vinho (quinhentos litros) e, duas camisolas do Moreira autografadas pelo Luís Filipe Vieira.

segunda-feira, julho 28, 2003

Para Pensar

Não deixa de ser curiosa a notícia: os Portugueses vão-se embora, «escorraçados» da sua própria terra. Entretanto Ucranianos, Romenos, Moldávos, Brasileiros, Cabo-Verdianos, entre outros, vão chegando. Muita coisa está errada na nossa organização: se temos cerca de um milhão de imigrantes mas ainda produzimos trinta mil emigrantes por ano algo está incorrecto.

Eu compreendo aqueles que emigram. A pensar melhor.

Utopia Africana

Toda a gente tem visto, através dos múltiplos meios de comunicação social, o que se está a passar na Libéria. Impressiona, por demais, ver indivíduos com a cabeça decapitada (e às centenas) pela catana, na mão dos agressores. Sensibilidades aparte: bem vindos à África sub-saariana. Não me vou alongar no que se está a passar hoje na Libéria: quem quiser pode consultar várias fontes informativas. Hoje é o resultado de ontem.

Mas, atitudes de catanada vária, isso faz parte da própria antropossociologia da África Austral, a África negra. Tudo perfeitamente normal. A presença do branco, com mais intensidade a partir da Conferência de Berlim do Século XIX, é que foi a maior catanada que alguma vez África sofreu e a alteração profunda dessa normalidade. A catanada de ontem deve impressionar mais que a de hoje.

Aquele que escreve e aquele que lê (neste post-moderno meio, blogueira maneira): é culpado. O famoso fardo, esse mesmo mas inversamente, está nas costas do «preto» e foi colocado pelo «branco».

Fiquemos apenas pela Libéria. Esta tem a sua curiosidade suprema no facto de ter sido o primeiro Estado independente de África, em 1822, e único a ser colonizado pelos Estados Unidos da América no continente africano. Nem mais! Daí também que a sua capital Monróvia derive do Presidente norte-americano, James Monroe.

Todavia esta colonização só podia ser mesmo à Americana: não foram em gestas messiânicas ou de novas descobertas ou ainda com intuitos comerciais mas, isso sim, na premência da resolução de problemas internos dos latifundiários esclavagistas do Sul. Por um lado, criava-se um Estado em África para todos os novos escravos livres e, por outro, retirava-se alguma insatisfação pouco conveniente a nível interno (não esqueçamos igualmente que só em 1864 Abraham Lincoln decretou a abolição da escravatura!).

Esta colonização de um novo «Estado livre africano» foi portanto um eufemismo para despachar aqueles negros que não queriam trabalhar como escravos, aquela velha máxima também Portuguesa do «volta para a tua terra», e essa era África.

O resultado hoje da chacina está portanto relacionado com um Estado também criado à força e contra os autóctones, que só por serem de raça negra, pensaram Americanos e Europeus, pertencem à terra mãe África. Esqueceram-se das cerca de oito mil etnias, todas com suas tradições diferentes, línguas e dialectos riquíssimos (alguns mesmo sem escrita). Eles, que inventaram o seu Estado para a sua Nação, esqueceram-se desse pormenor na hora de criar realidades políticas, artificiais e imaginadas, para outros.

Contra o paternalismo do fardo convém aos demais leitores do Periscópio-Quatro não virar a cara quando virem nos noticiários a cabeça de alguém na mão de outro e pensar que tal só é possível em África e com Africanos. Nada mais falso: lá como aqui a chacina é igual. Nesse território as mãos de Europeus e Americanos também estão - e muito - sujas de sangue. A Libéria é apenas um exemplo, hoje na berlinda.

BSA

domingo, julho 27, 2003

Armstrong

Lance Armstrong, ciclista estado-unidense, venceu pela quinta vez consecutiva a volta à França em bicicleta. O Tour compreende cerca de 3500 quilómetros em três semanas, aproximadamente.

Para além da força e atributos genéticos necessários para uma tamanha proeza desportiva, aquilo que quero realçar em Lance Armstrong é, para toda a sua vida, a vitória que conseguiu contra o cancro, em 1996.

A este batalhador desportista foi-lhe diagnosticado cancro testicular que se espalhou por doze nódulos cancerígenos desde a cabeça aos pés, incluíndo pulmões. Estes últimos, para os ciclistas, estão como as mãos para os pianistas.

Não desistiu. Arriscadas operações de remoção dos ditos e sessões de quimioterapia e, a seguir a estas, impressionantes treinos onde andava quilómetros e quilómetros. Conseguiu. Ultrapassou todo o mal mas os anteriores patrocinadores abandonaram-no pois não acreditaram totalmente na sua recuperação.

Duas excepções: U.S. Postal Service e Trek. A primeira vitória obtida na prova rainha do ciclismo mundial, após o caminho percorrido, foi portanto a demonstração interior do seu valor e luta. Cinco vitórias consecutivas hoje é apenas uma etapa para tentar bater o recorde, para o ano, das inéditas seis consecutivas. Esperemos e torçamos.

Hoje em dia Lance Armstrong, fora da bicicleta, dedica-se a ajudar por todos os meios a investigação da cura para o cancro e à moralização daqueles que o tentam vencer. Quer através dos seus livros, a fundação própria ou organizações impulsionadas por ele, este Homem é um exemplo como poucos.

BSA

sábado, julho 26, 2003

«O problema de Portugal»

O «problema de Portugal» é simples e encontra-se expresso em toda a volúpia na estultícia de Alexandre Franco de Sá. Verifiquem por vós mesmos.

Podemos ser feios, porcos, maus, preguiçosos, desorganizados e todo um rol adjectivado. Poderemos até estar a mais cá, mas enquanto houverem mentalidades assim nunca passaremos da mediocridade.

LLOSA

"Saber ler e escrever, vestir casaco e gravata, ter estudado e vivido na cidade, já de nada serve. Só os bruxos são capazes de perceber o que se passa."

[Mario Vargas Llosa]

quinta-feira, julho 24, 2003

Anúncio Ocasional

«VENDE-SE BURRAS PARIDAS E PRENHAS E JUMENTOS»
«96-5057032»


Venho por este meio publicar este pequeno achado para toda a comunidade blogueira tomar conhecimento. Digam lá que não é uma preciosidade? Encontrei por acaso num recorte do jornal ‘Ocasião’ no lado inverso daquilo que se pretendia. O anúncio é autêntico. Pura das verdades. Quem quiser confirmar só tem que telefonar e perguntar qual é o custo, ou melhor: os três possíveis custos. Eu não telefonei nem vou telefonar. Nem sei quem, onde, quando, nada. Nem recebo qualquer comissão por burra vendida. É um anúncio apenas.

Ele há burras já paridas, ainda por parir e jumentos. Não têm machos nem mulas. Segundo o saber popular as mulas são as melhores que há: aguentam o maior esforço de trabalho. Mas os machos e as burras também não são maus, só o jumento é que não é tão resistente. Atenção que eu estou a escrever dentro daquilo que sei, se aparecer alguém por aqui com mais esclarecimentos no assunto por favor não hesite em contactar o Periscópio-Quatro. Dão-se alvíssaras.

Mas, apesar de tudo, interrogo-me bastante: quem é que quer comprar, primeiro caso, uma burra parida? Para que é que serve? E será que já vem com o filho?

Ou então, segundo caso: burras prenhas. Quem está interessado em levá-la e depois fazer da sala ou do quintal uma maternidade e ainda executar o ofício de parteiro? E se o jumento chamar «pai» a quem comprou a burra, como é que é!?

E depois, terceiro caso, os jumentos? Será que estes são os filhos das burras já paridas e então vêm com elas? Ou serão já crescidos? E também qual a sua utilidade para a pujante e próspera agricultura nacional (e esta vale para todos)?

Como já disse não telefonei nem vou telefonar. Todavia acho que bastava ligar para a pessoa vendedora para obter todos os esclarecimentos necessários às minhas dúvidas. Só o não faço porque de facto se deve tratar de um indivíduo sério que eventualmente trabalha nisso.

Para além do mais sei não haver necessidade de comprar burras ou jumentos pois muitas vezes levamos com eles sem quaisquer custos adicionais. Ocasionalmente eles até podiam pagar mas nós não os queremos na mesma. Quanto a paridas ou prenhas ou mesmo sem nunca terem parido, as burras, quem também já não se fartou de ouvir zurrar por tudo e por nada?

BSA

quarta-feira, julho 23, 2003

Ginastas Lusos

Toda a gente tem visto, mais não seja pela televisão, os ginastas de múltiplas nacionalidades que têm desempenhado actividades desportivas pela Lisboa fora (e dentro), através do evento chamado Gymnaestrada. Montou-se o arraial como costumam os portugueses fazer sempre que aparecem iniciativas «vindas de fora». Tudo bem, até apoio esta exibição internacional.

O mais chocante foi ver inúmeros atletas dessa iniciativa rumarem ao Centro Comercial Colombo para, aí nesse templo labiríntico, exibirem os seus dotes de ginasta praticados desde tenra idade. Muitos desses praticantes afirmaram que era a primeira vez que faziam actividades desportivas em centros comerciais. Pudera: na terra deles não há loucuras destas! Mas aterrando cá o provincianismo faz questão de exemplificar a estultícia nacional.

Choca-me mas não me espanta: o desporto preferido e praticado pela grande maioria dos lusos atletas é passear-se nesses novos «passeios públicos» para olhar para aqui, olhar para ali, sobe escada rolante, desce elevador, etc., tudo em honra de São Belmiro. Outros ainda preferem a iniciativa desportivo-cultural do «croquete e do copo de vinho» entrementes umas anedóticas asneiradas.

Mas a culpa não é do povo. A responsabilização por esta fadiga desportiva é sempre dos inúmeros e sucessivos governos, democráticos e/ou não democráticos, esquerdosos e/ou fachos, tanto importa, que nunca investiram numa séria política de desporto para a população, incentivando e dando condições públicas logo desde os infantários. A opção neste país nunca é o investimento a longo prazo na sua massa critica mas sim o efeito imediato da obra feita. A política do «elefantismo branco»!, e através deste paradigma bacoco gastamos milhões e milhões e mais milhões. Tudo ineficazmente.

Tudo mas tudo quando o essencial era a população fazer desporto. Mais nada.

BSA

terça-feira, julho 22, 2003

Escucha, Jose

Jose Antonio Camacho, treinador de um clube de futebol lisboeta, o Sport Lisboa y Benfica, insurgiu-se na comunicação social, com tons agrestes e pouco polidos, ante a ânsia jornalística de saber seus comentários sobre a transferência de um guarda-redes (peço desculpa: portero) para outro clube lisboeta, o Sporting Clube de Portugal.

Transferência com dores de cotovelo pois esse mesmo portero esteve cerca de quinze dias dado como certo no clube que Jose Antonio Camacho representa, contrato supostamente assinado e tudo. Tudo indica que o jogador rejeitou as regalias salariais oferecidas por serem amplamente inferiores às auferidas no anterior clube. Tudo normal: livre escolha do trabalhador em escolher a entidade patronal.

Mas a escamação Castelhana foi centrada nas afirmações do Presidente do Sporting Clube de Portugal quando este afirmou que o dito guarda-redes era ‘o melhor da Europa’ e, sendo este 'já' jogador do Benfica, eram afirmações desnecessárias por parte da superior hierarquia clubistica rival. Deveria ter dito seguramente, uma vez que iria para o Benfica, que era um autêntico cepo da bola. Afinal aquilo que este clube está habituado a ter nos últimos anos.

Não sendo eu um jurista, todavia poderemos aqui no Periscópio-Quatro indicar múltiplos especialistas para resolver essa duplicidade de contratos, e tratar todo o imbróglio em que se meteu o clube leonino com um jogador que já era das aves de rapina. Antecipou-se portanto Jose Antonio Camacho ao afirmar que afinal já não era prioridade essa contratação e preferiria algumas estrelas brilhando no Santiago Barnabéu. Bom gosto nunca fez mal a ninguém.

Estas angústias laborais de quem gostaria de estar era no Real Madrid Club de Fútbol e não no Sport Lisboa y Benfica têm muito que se lhe diga. Efeito imediato são as pessoas desinteressarem-se ainda mais de assistir aos pobres espectáculos, quer no estádio quer mediaticamente, perpetrados por jogadores e treinadores (por vezes de tosca qualidade) que queriam era estar mesmo ‘noutro campeonato’. Parece o mesmo que casar com uma mulher e esta estar a pensar no primeiro namorado, que a beijou há quinze anos no intervalo de Biologia.

Surpreendente quando a Liga Portuguesa de Futebol está classificada em sétimo lugar a nível mundial. Muito surpreendente. Mas parece-me que o Sport Lisboa y Benfica não pertence a esta Liga e Jose Antonio Camacho se calhar já percebeu, senão veja-se: os passes dos jogadores são pertença de um empresário, jogam mas nenhuma mais-valia o clube receberá em caso de transferência; o novo estádio é posse de uma construtora e a venda de bilhetes nos próximos bons anos reverte para esta; e, os terrenos onde se encontra o novo estádio estão hipotecados a várias instituições financeiras. Tudo boas notícias.

A pseudo salvação parece estar na qualificação para a Liga dos Campeões, cuja presença em competições europeias o Benfica já nem se lembra. (nem vamos referir o Campeonato Nacional, prognóstico: vinte anos de jejum!) Caso não consiga a desejada qualificação, gostaríamos muito de aconselhar o seguinte para melhorar a sua moral: Jose: aprende a língua Inglesa que através dos nossos bons ofícios queirosianos talvez se arranje um lugar de adjunto no ‘Teatro dos Sonhos’, em Manchester.

Bem sabemos, Jose, que para os benfiquistas é Deus no céu e tu na terra!, mas não abuses da paciência! Qualquer dia recebes guia de marcha como os teus antecessores. Enquanto o tempo passa, podes sempre continuar a mandar postais para os verde-brancos. VALE!

BSA

domingo, julho 20, 2003

Prevenções

Notícia de sexta-feira última de um popular(ista) jornal diário: ‘Masturbação evita cancro [da próstata]: ejacular mais de cinco vezes por semana reduz o risco da doença em um terço’. A fonte geradora desta notícia foi um estudo efectuado na Austrália envolvendo dois mil homens.

Especifiquemos: ‘o efeito preventivo da ejaculação frequente impede o esperma de se acumular nos canais da próstata, onde se pode tornar potencialmente cancerígeno’, afirma Graham Gilles, o investigador do Conselho do Cancro do Estado de Victoria. A intrincada questão parece residir no facto deste estudo estar apenas relacionado com a masturbação e não com relações sexuais (seja de que tipo for).

O presidente da Sociedade Portuguesa de Urologia, Manuel Mendes Silva, confrontado com o estudo, afirma: ‘Não conheço [o estudo Australiano] mas nunca ficou provada a relação causa/efeito entre a vida sexual e o cancro da próstata, mesmo em investigações envolvendo padres’. Ficamos algo tranquilos mas...que têm os padres a dizer?

Segundo informação do mesmo jornal está o facto de, em Portugal, o cancro da próstata ser a segunda causa de morte dos Portugueses. Em primeiro lugar encontra-se o carcinoma do pulmão. Algo se associa, perguntam os mais incautos: será que temos de deixar de fumar tanto e masturbarmo-nos mais?! Se se trata de 'acumulação' nos canais da próstata então as relações sexuais também resolveriam a situação, não é assim? Segundo o estudo, parece que não.

Dadas as informações da doença em Portugal, urge questionar se não nos andamos a masturbar pouco? Mas verificando a primeira causa de morte talvez tenhamos a resposta: não nos masturbamos mas mantemos intensa actividade sexual pois a posteriori podem estar associados (também intensos) cigarros, ou não? Ou a solução, se este estudo for de facto relevante, é reduzir a actividade sexual para aumentar a masturbação?!

Lançamos também daqui o repto ao Presidente da Sociedade Portuguesa de Urologia para a publicação das investigações efectuadas em padres e, já agora, o que pensa a tutela clerical dessas mesmas. Bem sabemos que essas investigações devem ter partido do pressuposto que os padres não mantêm relações sexuais, mas sugerindo todavia que se masturbam. Perguntamos: na doutrina canónica não é uma e outra coisa considerada pecado?

BSA

quarta-feira, julho 16, 2003

Pequena Reflexão

A populaça da freguesia de Canas de Senhorim, que não excede os dez mil habitantes: quer um concelho! Os migrantes da freguesia de Agualva-Cacém, que excede os cem mil habitantes: querem um conselho?

Seja responsável - Responsabilize com moderação...

Ouvindo um forum radiofónico, sedimentou-se hoje um pouco mais no meu espírito algo que se vem avolumando, na sequência dos últimos grandes debates que têm afanado a nossa sociedade: um certo adormecimento social e de consciência talvez seja mais aparente do que real. O tema era o segredo de justiça. E o que se verificava pelas intervenções dos ouvintes - que, nobre e louvavelmente diga-se, se dão ao trabalho de agarrar no telefone e participar - era que todos tinham consciência da impunidade que grassa. A empregada doméstica, a funcionária aposentada, o vendedor de telemóveis; enfim, todos alheios aos meandros técnicos do funcionamento da justiça, mas conscientes do valor que ela representa. E, como tal, sem nada a dizer (afirmavam-no) sobre o que deveria ser alterado - ou não - no regime do segredo de justiça, mas revoltados pela ausência de responsabilização dos culpados pelas várias e sucessivas violações do dito. Revoltados por não se descobrirem culpados (portanto, por não se desenvolverem diligências para tal apuramento), mas ainda mais revoltados por alguns serem conhecidos ou dados como tal sem qualquer consequência.
Pois é este o estado das coisas. Rapidamente se conseguem apurar consequências - generalizadas e dramáticas: a justiça do direito só será levada à  prática, nesta e em situações semelhantes, quando a revolta popular tiver ou estiver em vias de ter consequências na responsabilidade política dos governantes. Só quando os politicamente responsabilizáveis perceberem que estão à  beira da responsabilização, se efectivará (directa ou indirectamente) a responsabilidade jurídica dos que não são politicamente responsabilizáveis.
Por outras palavras, a aplicação da justiça corre o risco de ser instrumentalizada para a manutenção do poder, quando o seu princípio valorativo é exactamente o contrário: o de que o poder é instrumental para a aplicação da justiça. O problema não é novo mas é grave. Muito grave. Nomeadamente porque a justiça não sacrifica cordeiros (ainda que apenas lhe tenham a pele), e porque a escolha dos mesmos pelo poder é sempre arbitrária.

RGF

quinta-feira, julho 10, 2003

Pessoa

"Seja falar, escrever, olhar sequer,
Sempre inaparentes somos. Nosso ente
Não pode, verbo ou livro, em si conter.
A alma nos fica longe infindamente.
Pensamentos que dermos ou quisermos
Ser alma nossa em gestos revelada
Coração cerrado fica o que tivermos,
De nós mesmos é sempre ignorada.
Abismos de alma a alma intransponíveis
Por bem pensar ou manha de o parecer.
Ao mais fundo de nós irredutíveis
Quando ao pensar o ser queremos dizer.

Sonhos de nós, as almas lucilantes,
E duns pra outros sonhos doutros antes."

[Fernando Pessoa]

quarta-feira, julho 09, 2003

Gentil Singapura

Palavra de apreço e solidariedade para a grandiosa equipa médica de Singapura que, num acto de coragem e saber, decidiu arriscar a operação das siamesas Iranianas. Infelizmente não resistiram à delicada empresa, falecendo. Não era decerto o desejo dos médicos, nem de ambas, nem de ninguém, penso eu.

O Dr. Gentil Martins, ilustre médico da nossa Lusitânia, também especializado em operações similares (e, atenção!, não duvido da sua competência), apressou-se a divulgar no circo televisivo que os médicos "só fizeram disparates", durante e na complexa cirurgia.

Pois que não querendo eu fazer qualquer tipo de ironia em relação às irmãs Iranianas e aos médicos responsáveis pelo trabalho, gostava de sugerir a grande oportunidade que o Dr. Gentil Martins tem, em Portugal (isso mesmo!), de realizar uma semelhante cirurgia, quiçá ainda mais complexa!

Passo a explicar: existem dois gémeos lusos na mesma situação!, (mas o Dr. Gentil Martins decerto ainda não os descobriu!): a cirurgia é mais complexa pois apesar de existir um acoplamento cerebral, este não é de nascença: só há cerca de dois anos a junção sucedeu (deixando estupefacta a comunidade médica!), mas com o decorrer do tempo as dores de cabeça intensificaram-se e então há que solucionar o problema.

A qualidade de vida tem vindo a decair substancialmente e os siameses Portugueses estão dispostos a efectuar a cirurgia, apesar de arriscada. Estranho pois que a equipa do Dr. Gentil Martins não tenha sido contactada nem mesmo tenha sabido de nada ao momento! Em toda a Europa houve notícias deste caso e concerteza deve haver alguma explicação! Mas deixemos de parte essa falta de atenção.

Deixamos portanto aqui o alerta ao Dr. Gentil Martins: para remediar a reputação dos médicos a nível internacional e os "disparates" dos outros sugiro que: 1. Reuna uma vasta equipa nacional de médicos, 2. Convoque a comunicação social a nível mundial, e, 3.Chame à mesa das operações os seguintes siameses (falsos):

Dr. José Manuel Durão Barroso e o Dr. Paulo Sacadura Cabral Portas.

Aqui no Periscópio-Quatro esperamos que a operação seja um sucesso e que isso traga para Portugal prestígio ao mais elevado nível. Acautelamos no entanto para não fazer "disparates" como os Singapurenses pois o resultado pode ser previsível. Infelizmente, claro.

BSA

terça-feira, julho 08, 2003

Torpedo 2

Convite a exercício imperativo e distante de qualquer realidade possível:
1. Feche os olhos e imagine que está em Portugal;
2. Já pode abrir;
3. JÁ PODE ABRIR!
4. Clik neste linque, perdão, clique neste link http://www.iespana.es/tramaprestige/prestige.html - depois volte ao Periscópio Quatro;
5. Congratule-se por estar em Portugal e não haver destas coisas;
6. Congratule-se por estar em Portugal;
7. Lá em cima era a brincar... agora, sim, abra os olhos.

RGF

Torpedo Justificado

Pois que afinal houve mesmo quem trabalhasse em Sevilha durante a dita final europeia de futebol. Atentemos pois no nome do produtivo deputado: Alberto Martins. Estaremos atentos e seguiremos todas as ilações e conclusões deste tribuno sobre as práticas desportivas e o futebol em geral. Aguardam-se estudos seus editados pelo Parlamento e, seguramente, novos projectos legislativos sobre essas temáticas.

Evidentemente que toda a história raiava a jocosidade ‘indecorosa’ mas novos desenvolvimentos vieram torná-la anedótica. O problema das justificações de faltas ao plenário, pela ida a Sevilha, estava no teor da própria justificação em si: bastava ter dito que fora em ‘trabalho político’, sem referenciar a presença no futebol, para já se considerar a sua falta como válida. Brilhante Alberto Martins!

Os restantes parlamentares do cachecol político, que não têm as suas faltas justificadas (e outros que não a pediram), nem devem acreditar que tanta celeuma se levantou por uma mera formalidade justificativa. E afinal era tão fácil! Ninguém se tinha lembrado desse pormenor pois era a entrada num argumento demasiadamente óbvio, todavia tão distante do seu pensamento quanto do trabalho que realizaram.

Para futuras presenças em jogos de futebol, e nunca esqueçamos o próximo campeonato europeu, dever-se-ia criar uma Comissão Parlamentar no seguimento desta questão. Seria liderada pelo deputado Alberto Martins, e prepararia todas as visitas de estudo e trabalhos políticos dos lusos legisladores às tribunas da bola.

BSA

sábado, julho 05, 2003

Produtividade Depurada

Um dos últimos casos político-parlamentares, que cerca de trintena de deputados representativos da nação debatem, relaciona-se com o seu pedido de justificação de faltas e o seu poético não consentimento por outros seus pares superiores. Tal ausência parlamentar deveu-se à deslocação a sevilhanas praças à final de uma competição europeia de futebol, em que participava uma equipa portuguesa.

Perante tal viagem de trabalho dos nossos legisladores o país ficou estupefacto pela ousadia da justificação faltosa. Os conterrâneos, apesar de habituados a brandas costumeiras, não compreendem que ir assistir a um jogo de futebol é, ou passa a ser, considerado trabalho. Questionam-se, todavia, se esses parlamentares concomitantemente pensam legislar sobre essa temática laboral, perspectivando a grande afluência aos novos estádios do próximo campeonato europeu.

Mas tentemos perceber. Observemos e relacionemos o caso do ponto de vista institucional dos nossos imunes: um estudo israelita recente divulgou que os nossos deputados são os de menor produtividade em toda a Europa, trabalhando, salvo erro, oitenta e seis horas por ano (a seis horas por dia perfaz quinze dias!). Relembremos aos mais distraídos que anualmente contamos com trezentos e sessenta e cinco dias (ou seis).

Alvíssaras!, que esta era e foi a grande oportunidade de mostrar trabalho!, e decerto com grande impacto na vida pública lusa se a equipa saísse vitoriosa! (como sucedeu). Na intrínseca depurada opinião presente na planície, o seu apoio à conquista lusa foi essencial e determinante, daí a alegação que as suas faltas ao local normal de trabalho sejam justificadas, por razões de força maior da nação.

Na sua plena consciência está a ideia que, naquela ocasião especifica, trabalho da maior relevância estava a ser feito! Mais do que se estivessem no seu parlamento! Muito mais. O que defendem, com toda a naturalidade, é que o contribuinte pague o apoio que deram à equipa, uma vez que nem todos puderam fazê-lo de facto e esses que faltaram a Sevilha é que incorreram em faltas injustificadas e danosas para o país.

Mas subconscientemente há decerto a explicação própria que essa conquista deu-se em antigo território Mouro, e casa actual do grande irmão Andaluz, contra o Celta bárbaro!, justificando assim a alta representação da mui nobre nação Lusitana por mui dignos embaixadores do cachecol azul e branco. O povo, esse ignorante asco, é que não percebe. Ou parece que não percebe.

BSA

sexta-feira, julho 04, 2003

Torpedo 1

Fiquei hoje sabendo que a taxa de desemprego da população portuguesa que sofre de cegueira ascendeu há pouco tempo aos ultrajantes 88%. Se é certo que por aqui se mede também o nível civilizacional de um povo, não é menos certo que a já grande e crescente mole classe política, excelente empregadora, contribui para a contenção daquela percentagem.
RGF