quarta-feira, novembro 26, 2003

Taça Sevinate

Os marinheiros de água doce podem ter escolhido outras valências para a defesa da sua surpreendente Taça. Cabe-nos a nós, enquanto Portugueses, demonstrar que podemos fazer melhor que aquele elitista desporto.

Para tal proponho a criação da Taça Sevinate. Todas as traineiras lusas podem concorrer uma vez que pescar vai ficando fora de âmbito aos nossos pescadores.

Alia-se desta forma o melhor de vários mundos: dando o nome de Sevinate a esta Taça dá-se homenagem ao grande estadista, homem de visão e sensibilidade social que de facto ele é; por outro lado economicamente desvia-se o sector pesqueiro para o desporto náutico; e, por último, demonstra-se internacionalmente que a nossa candidatura à Taça América era apenas pretexto para avançarmos com esta iniciativa genuinamente Portuguesa.

Empolga-se a populaça com tiros de pólvora seca, e pensa-se que por tiros não dados se salva o mundo Lusitano. Tomemos consciência de quem somos e criemos em volta disso. Não esperemos a esmolinha alheia. Aí sim, teremos alma.

segunda-feira, novembro 24, 2003

The Meatrix at Coimbra

Num recente estudo suinológico, enviado anonimamente para a redacção do Periscópio-Quatro, vinham importantes dados sobre a problemática situação que existe na Universidade de Coimbra.

Conclui esse estudo, que por mera maçada não li as mais de duas mil páginas, o seguinte:

Os estudiosos e sobredotados alunos da Universidade de Coimbra estão fartos de se sentir carne para canhão às mãos dos intelecto-carnificinas dos docentes;

Não mais querem entrar porcos ignorantes e sair, ao fim de dez anos, transformados em salsichas, entremeadas, febras ou presuntos intelectualizados que não sabem fazer nada;

Querem a sua dignidade reposta o mais imediatamente possí­vel: a pocilga tem que voltar a ser o que era, não mais trabalhos, não mais obrigações, não mais propinas para pagar ração e sim emprego garantido ao fim da engorda;

Não querem também que entidades superiores, os triunfadores dos porcos outros (desde o ministro ao reitor) lhes exerçam qualquer tipo de autoridade;

Tudo o que eles pedem é liberdade para comer bolota caloira e subsí­dio monetário para que possam pagar cerveja e assim dar trabalho aos professores porquanto aparecem aos dias de exames.

Tudo isto resumidamente, senão o cadeado nas portas é mero proémio para a matança final: a cagança literal pela cidade fora e a cagança figurada nas responsabilidades interinas do porco enquanto porco.


Tranquilamente.

Podem confirmar em The Meatrix at Coimbra

domingo, novembro 16, 2003

Do Estádio do Dragão ao Futebol em Geral: Pequena Homenagem

«O financiamento do futebol é também uma possível fonte de corrupção a considerar, dada a popularidade procurada por políticos e autarcas através de financiamentos, doações e outros expedientes. Essencialmente, isto acontece porque o futebol gera grande simpatia entre o eleitorado, e é uma força centrífuga, que atrai a si os empreiteiros e os seus negócios com as autarquias, envolvendo terrenos e construções. O futebol, especialmente a nível local, é uma actividade tão marcante para a vida social e política, e gera por sua vez tantas possibilidades de negócio, que, para muitos decisores, acaba por ser, simultaneamente, um irresistível campo de injecção de enormes verbas para utilização pessoal e partidária. A tríade autarquias, futebol e construção civil tem produzido clientelismos poderosos, em muitos casos assente em negócios obscuros. Aliás, em certos círculos académicos portugueses, que infelizmente não partilham publicamente as suas ideias, alguns clubes de futebol de dimensão regional ou local são já encarados como os “off-shore dos pequeninos”, dado que permitem, por vezes, e em certos casos, as mesmas vantagens de confidencialidade e rotação de dinheiro oferecidas pelos paraísos fiscais.»

[Maria José Morgado, José Vegar]

quarta-feira, novembro 12, 2003

The Matrix Metaphors (Reposted)

Após a conclusão da trilogia da matriz criada pelos irmãos Andy e Larry Wachowski (de origem Polaca), cabe agora repensar tudo aquilo que pode estar por detrás do fenómeno. Para além da excelência cinematográfica do argumento matriciano, principalmente no primeiro filme, há que tentar subtrair toda a magnitude de efeitos especiais e rendilhados vários que fazem o espectáculo geral mas que desfocalizam da questão nuclear.

Devo confessar que apreciei os três filmes por inteiro e encaro-os como uma unidade a ser interpretada. Os críticos aplaudiram até à exaustão o primeiro, o segundo gorou as expectativas e o terceiro entrou na categoria de filme a evitar. Acho estrondosa a opinião que apenas o primeiro foi categoricamente excelente. Foi de facto mas os dois subsequentes transportam-nos para a centralidade e originalidade do primeiro.

Ademais houve um único critico cinéfilo, pelo menos que eu encontrasse, que apontou numa direcção que eu já sentira no segundo filme: António Cabrita, do semanário Expresso, escreve o seguinte:

«Confirma-se neste último episódio o sincretismo new age do filme, mas torna-se mais nítida a presença dum fundamento judaico de que a cidade de Zion é ilustração cabal (Sião, a cidade de David e o monte onde se situa o Templo, é um símbolo da literatura profética e cultural que se exprime o Sionismo). Por inerência, para além da sua faceta de entretenimento, é clara no filme uma oclusão do cristianismo e da sua mitologia, evidenciando-se Matrix como um instrumento ideológico. Sabe-se a força do lóbi judeu nos EUA, e o filme, no seu núcleo, apresenta-se como reduto duma escatologia judaica, ávida de simpatia, num momento em que Israel tem um comportamento pouco ortodoxo.»

António Cabrita aflora a questão e coloca uma tónica precisa, no entanto não aprofunda no sentido de transformar The Matrix na existente metáfora mais simples.

Pasme-se ou não: este é o meu entendimento sobre a trilogia criada pelos manos de Chicago. Na essência do filme está a estrutura basilar do Judaísmo como a metáfora crua. Muito subtilmente e com mestria é-nos oferecido esse mundo. Por este aspecto particular torna-se assim numa magnifica ironia, quando eles são acusados de não colocar nenhum momento de (desnecessário) humor no filme.

Meus amigos: nos filmes da Matriz é a história do povo de Israel e a sua religião na sua máxima força. Senão vejamos:

Anderson/Neo: o Messias

Como um comum mortal que se transfigura em Neo, o Messias que está por descobrir, está por chegar, para salvar todo o povo reunido e refugiado em Zion. Como sabem, a religião Judaica ainda anseia pelo seu Messias, uma vez que esta apenas segue o Velho Testamento. Neo assim transforma-se na Fé inquebrantável do Povo Judeu no seu próprio semelhante, entre os humanos e não um ser supra-humano. Primeira metáfora: de entre os indivíduos comuns está o salvador significando que cada um, em si mesmo, pode ser também o Escolhido/Messias.

Nebuchadnezzar: a Diáspora Judaica

Em língua Portuguesa pode-se traduzir (salvo erro) para Nabucodunosor, grandioso Rei Babilónio mas atacado por uma praga de maus sonhos. Nesta nave errante Morpheus (deus grego dos sonhos) e restante equipa andam em busca do Escolhido num desconhecido mundo, ora entrando ora saindo da Matrix, conotados como uma Diáspora errante em busca da salvação do seu povo. (Israel na Era Antiga foi ocupada pela Grécia sofrendo uma forte influência cultural).

Oráculo: A Tora Escrita e a Tora Oral

Nesta penso tratar-se de uma metáfora da Tora (os primeiros cinco livros da Bíblia), o Antigo Testamento, onde se encontra a resposta para as adversidades de cada um. A tradição religiosa. (Tora Escrita). As regras e ensinamentos que os demais comuns devem ouvir, escolher caminhos segundo o seu próprio entendimento e de acordo com aquilo que efectivamente foi dito pelo Oráculo. (Tora Oral) A mensagem dominante desta é fazer crer aos menos iluminados.

Arquitecto: Deus

Deus interpretado como um ser superior, criador das coisas existentes mas também ele próprio a consciência do Homem e por isso dentro deste.

Agente Smith: o Anglo-Saxão

Sendo este uma incarnação do mal, oponente ao Messias que Zion precisa, numa primeira fase devido à origem Inglesa do nome pode querer referir-se ao comportamento dúbio dos Ingleses enquanto potência administrante da Palestina entre as duas Grandes Guerras, uma vez desmembrado o Império Otomano. Por outro lado com a multiplicação dos Smiths quer no segundo quer no terceiro filme como que existe uma acumulação de males todos com um único objectivo: a destruição de Neo e por consequência a não salvação do povo de Israel).

[com Smith mantenho em mim próprio algumas parodoxais interrogações. Nome de origem Inglesa que era dado áqueles que trabalham o Ferro e portanto produtor quer de instrumentos de agricultura quer de armamento...]

Zion: A Terra Prometida

Este é o nome de uma das colinas em Jerusálem e esta representa na Tora a Terra Prometida, lar desejado onde o Templo assume uma posição central.

A Matriz: A (ir)realidade não-judaica

O mundo não judeu, o mundo falso, aparente, artificial, impuro. A realidade alienada, apenas sendo Zion e o seu povo (o povo eleito) e único representante da espécie humana.

As máquinas: a guerra

A metáfora da guerra quer na perseguição ao povo espalhado pelo mundo, quer na criação do próprio Estado de Israel, quer na sua própria manutenção enquanto Estado. A guerra está lá. Desse modo é potente o símbolo de Neo oferecer-se à Guerra como sacrifício e pedindo em troca a Paz oferecida a Zion, à Terra de Israel.

Outra questão fulcral para que considere toda esta história fruto duma interpretação da religião judaica, para além da história do povo de Israel é o seguinte:

No primeiro filme quando Anderson visita pela primeira vez a Oráculo encontra-se numa sala com uma criança que dobra colheres com a mente. Salvo erro esta diz para Anderson que é «apenas uma ilusão, está tudo na tua mente». Este é outro ensinamento Judaico. Senão veja-se nas palavras de um Rabi:

«a imaginação actua como um intermediário. Serve como ponte entre o físico e o espiritual, entre o corpo e a alma. A capacidade para visualizar algo na mente provem do poder da imaginação. Aquilo que visualizamos pode de facto ser um objecto físico, mas a visualização desse objecto na mente é com efeito uma experiência espiritual. A imaginação pode assim ser pensada como um ponto mais elevado no âmbito físico e um ponto mais baixo no âmbito espiritual. Ela é a ponte entre o material e o etéreo.»

Pequena conclusão: senti a nuance de Israel no segundo filme apenas. No primeiro fiquei absorto pela complexa teia argumentativa. Neste terceiro explora-se ainda mais, mesmo futuristicamente, o caminho do povo de David. António Cabrita aflora a questão no Expresso, único local onde vi analogias parecidas. Fiz evidentemente algumas pesquisas pois os meus conhecimentos não são muito vastos em termos de religião Judaica. Aqui está a minha opinião, concorde-se ou não. Aceitam-se criticas ou reparos, claro! Mas pouco alterarei este ponto de vista. Vale?

[PS. Fui atacado por um bombista-suicida auto-intitulado Thoulth (que graçola o detectado nome). Não encontrei nada igual ao que está aqui, nem este texto é por de mais especial. Nada temo, muito menos por plágio.
Obrigado SP.]

The Matrix - Hoveve Zion

Aqui jaz(ia) um post (acabou por ressuscitar mais acima). Como eu não gosto que me acusem de plágio, na dúvida, só posso retirar. [Quanto à Maçonaria que falas...ó mascarado Thoulth (se ao menos vocês conseguissem brotar realmente a alma!...tudo aquilo que sabem é arrojarem-se no finito), esse nome que aí vês é falso...chamo-me Nicolau, outros chamam-me Pai Natal!]

terça-feira, novembro 04, 2003

Real Politics na 4ª classe

Muito teria Kissinger a aprender (ou nós a ganhar) com as nossas crianças da 4ª classe. Imaginem a Diplomacia escrita como ela realmente vai sendo...
Muito teria a nossa Política a aprender (ou nós a ganhar) com as nossas crianças da 4ª classe.
Imaginem o nosso Portugal (na cêiéié) escrito como ele realmente é.
Enfim, tenho em mente um modelo como o que abaixo cito, um texto que tenho pena de não ter escrito... por exemplo, aos 25 anos.

João Pedro, 4a classe

"As rãs
Eu gosto muito de rãs. As rãs arrotam a noite toda. As rãs são mais pequenas que as vacas e mais grandes que um pintelho. As rãs não têm pintelhos. As rãs põem ovos pela cona que depois dão râzinhas pequenas. Se as rãs tivessem pintelhos na cona arranhavam os ovinhos
que são muito pequenininhos e as rãzinhas que estão lá dentro iam morrer porque entrava água pelas arranhadelas e elas morriam afogadas e porque quando são pequenas não têm patas e não sabem nadar. Eu também ainda não tenho pintelhos mas já sei nadar. Também ainda não tenho cona mas um dia vou ter muitas. As rãs são as mulheres dos sapos. Os sapos não têm unhas por isso não podem coçar os colhões. É por isso que eles andam com as pernas abertas a arrastar os colhões que é para os coçar. E quando se picam nos colhões os sapos dão saltos. As rãs também dão muitos saltos, por isso têm a cona sempre
aos saltos. Eu gosto muito de rãs. E gosto muito de sapos
."

segunda-feira, novembro 03, 2003

Adenda ao Trauma Nacional: Encomende-se!!!

«Researchers in Mexico have invented a new type of anti-graffiti paint.

The row over who will provide the anti-graffiti technology for Berlin's Holocaust memorial (see article) highlights a widespread and ancient problem. Even the Romans had to put up with slogans scratched on their fine new buildings by ungrateful locals. Ever since then, people have been struggling to deal with unofficial decorators who wish to express their opinions, or merely to catch the public eye.

Most existing anti-graffiti coatings work only a few times before they must be repainted; a nuisance when a newly cleaned surface gets redaubed almost immediately. But now, Víctor Castaño and his colleagues at the Autonomous National University of Mexico, in Santiago de Querétaro, believe they have a solution—a paint to which the daubings will not stick.

The group's research work has already led to one graffiti-proof coating, called Deletum 3000. But this is inconvenient to use as it has to be mixed just prior to use. The new product, Deletum 5000, which will be released in January, is a ready-mixed, and more effective, version, as Dr Castaño explained to the Nanotechnology in Crime Prevention and Detection conference held in London on October 28th.

Deletum 5000's special ingredient is silica. It is loaded with particles of the stuff that are but a few nanometres (billionths of a metre) across. These particles have had both oil-repellent and water-repellent molecules attached to their surfaces. Both are necessary, since the materials used by graffiti artists may be oil-based or water based. However, if merely mixed together, the two would end up repelling each other, and thus separating. By attaching them to the silica, this mutual loathing can be overcome and, as the paint dries, the changes that take place force the oil-and-water-proofing to the surface. The result is that most agents used by graffiti artists will not stick to that surface—and what does stick can be washed or brushed off easily.»

The Economist

domingo, novembro 02, 2003

WeltPolitik

Pelo simples facto de termos aparecido no papel Time e no El Pais ficamos um «país deprimido», «derrotista», «depressivo» e com a «alma pintada de preto». [No fundo o que o El Pais quer dizer é que nós, enquanto Estado, não temos capacidade de nos organizar e, por conseguinte, de existir enquanto entidade independente e soberana.][Quanto à Time a jornalista em afirmações ao Periscópio-Quatro declarou que «estava bêbada quando escreveu aquilo» e, para além disso, recebeu uma «mala tipo pele com euros» dos «importadores de carne do Norte» visando a promoção do cluster de Bragança]

Temos perante nós uma «profunda crise institucional», um «descrédito das instituições» e uma «deriva mediática».[Não será partidária?][O outro sintetizou a coisa de outra maneira: «tens o pé numa galera e outra no fundo do mar»]

Os Portugueses sentem «o Estado a desagregar-se», as «instituições a ruírem», o «país real a desaparecer».[Sobe a audiência!] [País real: franja da população devota à causa monárquica]

Portugal, na opinião de uma mínima percentagem da sociedade, está podre porque um deputado da nação, um apresentador de televisão, um médico pediatra, um advogado, um diplomata, (entre outros que se contam pelos dedos das mãos e dos pés) são acusados de podridão. Ainda não foram julgados mas o facto de serem arguidos, ao facto de estarem ou terem estado em prisão preventiva leva ao «abandalhamento da justiça». [Chamem a Gestapo!]

Três televisões transformam as salas de audiência nos grandes factos nacionais meses a fio levando consequentemente a tornar o caso novelesco. Adicionalmente aos tribunais temos informação de futebol (os outros desportos ocupam 5%), e notícias avulsas vindas de fora via satélite, muitas sem interesse nenhum, onde não são necessários jornalistas: bastam tradutores ou meros interpretadores da vida que não a nossa. [Comments: 27]

O país está por de mais alienado e subvertido por um processo, o da Casa Pia, mas começou o ensaio geral com Vale e Azevedo e pela Universidade Moderna. Para tal contribuiu a estonteante forma como a comunicação social passou a tratar esses casos: envolvendo figuras públicas, nacionalmente reconhecíveis, o que proporcionou uma mais valia para o sucesso de share e da devassa da podridão. Esta última sempre existiu, existe e existirá em todos os países do mundo. [Mortal!][Afonso Henriques...papá...desde que partiste a perna nunca mais nos endireitamos!]

Portugal está no divã da agenda comunicacional há demasiado tempo e disso os conterrâneos ressentem-se, os estrangeiros passam umas sintéticas e precisas análises sobre os diversos casos e, simultaneamente, o país atrofia criando tendências suicidárias. [Nos outros países, incluindo o Tuvalu, não se passa nada disso!]

Não se trata de espalhar a mensagem de esperança ao povo Lusitano. Essa não é precisa porque existe! Há apesar de tudo um povo que trabalha, que inova, que cria, que produz. Infelizmente, esses nunca têm acesso aos meios de grande difusão como a televisão ou a rádio ou os jornais. Para estes últimos estão reservados os arguidos notáveis, os drogados, as putas, os paneleiros, os estropiados da vida, os lazarentos preguiçosos, os lé lé da cuca, toda a escumalha da sociedade tem notícia, menos alguém supostamente normal. [Catherine, Catherine!]

[Enfim...acontece e pronto!][Mas bom, mesmo bom, é a fronteira...Germano-Checa! A Questão dos Sudetas ficou sempre por resolver!][Mas isso não é nosso, que importa?]

sábado, novembro 01, 2003

O Trauma

Está em conclusiva construção em Berlim, capital do antigo e do novo império, um «Memorial aos Judeus Assassinados da Europa» situando-se este próximo das famosas Portas de Brandemburgo. A polémica já vem de algum tempo quer pela decisão Alemã de o construir quer pelo controverso projecto de um arquitecto Americano. A notícia vem esta semana no Britânico The Economist.

Desta vez a celeuma é outra: devido à especificidade do Memorial em si, há que colocar um revestimento anti-grafiti (Protectosil) sendo este fornecido pela empresa química Alemã, a Degussa, que ganhou em concurso o fornecimento e até decidiu doar metade do necessário. Até aqui tudo bem.

Ora acontece que a actual Degussa foi proprietária de outra empresa química Alemã, a Degesch, sendo que esta produzia o gás (Zyklon B) utilizado em campos de concentração para matar os Judeus. A denúncia foi feita por uma empresa Suiça que perdeu o concurso para o fornecimento de produto similar.

Parece uma forte contradição e ironia do destino esta situação: a empresa que forneceu o gás mortífero hoje fornece o anti-grafiti para o Memorial...Mas questiono-me: considerar hodiernamente a Degussa nazi porque descende da Degesch é considerar que um cidadão Alemão hoje é tão nazi como aquele antes de 1945?! Ou melhor ainda: qualquer empresa fabricante de armas é igualmente assassina?! Aquela(s) empresa(s) apenas operara(m) a sua fabricação, nunca a sua utilização, pelo menos que se saiba!

Todas as empresas Alemãs desde 1945 têm feito uma lavagem à consciência e aos arquivos em busca de esqueletos no armário, assim como os próprios cidadãos, para procurar qualquer indício de participação em actividades no tempo da outra senhora (a deles). Parece-me tarefa ingrata: quando um país está em guerra todos os seus cidadãos, mesmo os que não concordam, fazem parte desse esforço. Existe como que uma «prisão» na guerra e uma «liberdade» quando essa termina. Caso contrário sempre que um país perdia uma guerra haveria que exterminar os seus respectivos nacionais.

Tomemos alguns exemplos: a hoje famosa indústria automóvel Alemã. O construtor líder em vendas na Europa é a Volkswagen e esta teve o arranque com apoio estatal sendo mesmo impulsionada pelo próprio Adolf Hitler. Este último gostava de se transportar em Mercedes-Benz descapotável para ser admirado pela populaça. Os exemplos sucederiam-se dos automóveis aos lápis passando por um sem número de produtos.

Nada disso perfaz um Alemão ou um utilizador de produtos Alemães um potencial nacional-socialista senão na mente de um traumatizado. Esta estória só prova o ainda latente trauma quer de Alemães quer de Judeus, passados cinquenta anos de História.

É caso para dizer, quiçá...«eu não acredito em bruxas, mas que as há...há!».