sexta-feira, julho 23, 2004

Morreu Carlos Paredes

Morreu Carlos Paredes.
Cantava a alma portuguesa.
Provavelmente, dos poucos músicos do mundo que foi proibido pelos médicos de tocar o seu instrumento, já que a sua paixão depositava 400 quilos de força sobre as cordas, estiolando o seu coração infinito.
Descansará, mas o movimento será perpétuo.
Para mim, será sempre o "António Marinheiro".
Adeus Mestre.



domingo, julho 18, 2004

Essa é que é essa

people are strange
 
«O Sampaio é panhonha. O Santana Lopes é demagogo. O Sócrates é populista. O Vitorino é cobarde. O Durão é carreirista. A Ana Gomes é histérica. Queremos ser amados e compreendidos na nossa complexidade, mas continuamos a resolver os outros com o adjectivo que está mais à mão.»
 
[Nuno Costa Santos]
 

sexta-feira, julho 16, 2004

«Já reparou quão pintas eu estava em 1910?»


 
[«Retrato de Herwarth Walden», 1910, Oskar Kokoschka]



terça-feira, julho 13, 2004

Da produtividade.

"Como obter melhores resultados com as formas de luta?

Esta é uma pequena reflexão sobre o caso dos CTT. Nos Correios poder-se-á pensar em greves sectoriais. Por exemplo no atendimento das duas primeiras e das últimas duas horas que são as que maior número de pessoas precisa.
As duas primeiras horas afectam apartados, vales, encomendas, registos, etc; as duas últimas horas é quando tudo vem despachar expediente. Assim a recepção de correio diminuía muito.
Poder-se-ia fazer uma paragem no transporte, no mesmo sistema, para estar em falta para o tratamento nos CDP´s.
Se o correio não chegar nas primeiras horas aos CDP´s será mais difícil ser tratado, feito a sua divisão e posterior entrega para distribuição.
Como exemplo: fez-se um plenário no CDP de Portimão nas três horas seguintes à divisão geral e foi o suficiente para estragar o dia porque nas duas horas que sobra não dá para dividir, arruar e distribuir.
Assim uma luta, ou uma greve, pode-se fazer por mais dias sem ter tão pesada nos nossos bolsos. Faz até mais mossa na empresa e com certeza que ajuda a obter melhores resultados para os trabalhadores.
Quando todos os sectores estão interligados e dependem uns dos outros o não funcionamento de um afecta o exercício de funções dos outros."*


* Francisco Reis, Delegado Sindical SNTCT, retirado das "Cartas à Redacção" do Participação, Boletim do Bloco de Esquerda para o Trabalho. Podem verificar aqui, na página 10.

sexta-feira, julho 09, 2004

Alegoria ao nosso bairro

“A Torre Eiffel está a cair! Depressa: tragam vinte homens fortes para a segurar. Eu conheço os melhores de Paris!”

quinta-feira, julho 08, 2004

Apontamento: o tesouro não está à vista

Está deslocada a discussão essencial relativa à questão política presente.
O problema não está nas últimas eleições legislativas e numa “vontade popular” que aí se haja cristalizado.
O problema não está – para o País, embora para os empresários possa estar – na estabilidade de uma ou outra solução.
O problema está no funcionamento do sistema de governo propriamente dito, no seio do que vem sendo a evolução do sistema político.
Que o Presidente da República tem tanta legitimidade democrática como Parlamento e mais que o Governo é adquirido.
Que o Presidente da República, com essa legitimidade, pode exercer um poder político – a dissolução do Parlamento, não tendo este o poder inverso de destituição do Presidente – com base na sua própria interpretação do sistema e da realidade presente, é também uma realidade.
A questão está, pois, em saber, se a intervenção presidencial deve introduzir no sistema um elemento de controlo do partidarismo e do governamentalismo, sabendo-se que, presentemente, e dada a tendência para a formação de maiorias absolutas, a fiscalização política do Governo pelo Parlamento é puramente mítica.
Mais do que saber, neste momento, de que governo precisamos, importa saber, neste momento e em diante, de que Presidente vamos necessitar. Eis, pois, um problema verdadeiramente político. E porque verdadeiramente político, verdadeiramente constitucional (e constituinte).
Recorrendo a uma imagem que até nem aprecio, foi quando deixámos de navegar à vista que descobrimos alguma coisa ... que se visse.

Eleições: certezas bloquistas

sexta-feira, julho 02, 2004

A day in a life

Na passada quarta-feira à noite Lisboa estava ao rubro. A vitória sobre a Holanda trouxe toda a gente para as ruas num ambiente tão extraordinário quanto surpreendente.
Os taxistas estavam mais calmos e simpáticos. Regras de trânsito caíram perante normas momentâneas de excepção.
Mas, o mais notável, é que as pessoas falavam e confraternizavam umas com as outras num registo que podemos dizer desconhecido.
Estranhos saudavam-se – e isso já era de esperar – e conversavam uns com os outros como se nessa noite isso fosse permitido e até suposto. Nessa noite, a vitória na bola trouxe-nos muito mais do orgulho nacional, união em torno de uma causa comum; mais do que chamada a portugalidade, que anda na boca de tantos (que brevemente, como em qualquer digestão, passará ao intestino e daí ...), que não se sabe bem o que é e pode até fazer mal à saúde (não consta, aliás, que o Teixeira de Pascoaes tenha sido mais comprado durante o Euro).
Nessa noite, a vitória na bola trouxe-nos uma simplicidade inesperada e desconcertante: as pessoas sabem, a final, divertir-se umas com as outras; falar umas com as outras; esperar umas pelas outras; as pessoas sabem, a final, ser melhores.
O que nos atirou para que nos déssemos dessa forma? Em rigor, ninguém sabe. Será que, no inverso de um rapto que une raptados e raptores que nunca se haviam visto mas contam em cativeiro a desconhecidos os seus medos e os dos seus filhos, nos raptámos uns aos outros sem dar-mos por isso? Ou pura e simplesmente vivemos a ilusão de ser mais genuínos?
O que me tocou – e, se calhar, hipostasiando – foi que nos demos.