sábado, julho 05, 2003

Produtividade Depurada

Um dos últimos casos político-parlamentares, que cerca de trintena de deputados representativos da nação debatem, relaciona-se com o seu pedido de justificação de faltas e o seu poético não consentimento por outros seus pares superiores. Tal ausência parlamentar deveu-se à deslocação a sevilhanas praças à final de uma competição europeia de futebol, em que participava uma equipa portuguesa.

Perante tal viagem de trabalho dos nossos legisladores o país ficou estupefacto pela ousadia da justificação faltosa. Os conterrâneos, apesar de habituados a brandas costumeiras, não compreendem que ir assistir a um jogo de futebol é, ou passa a ser, considerado trabalho. Questionam-se, todavia, se esses parlamentares concomitantemente pensam legislar sobre essa temática laboral, perspectivando a grande afluência aos novos estádios do próximo campeonato europeu.

Mas tentemos perceber. Observemos e relacionemos o caso do ponto de vista institucional dos nossos imunes: um estudo israelita recente divulgou que os nossos deputados são os de menor produtividade em toda a Europa, trabalhando, salvo erro, oitenta e seis horas por ano (a seis horas por dia perfaz quinze dias!). Relembremos aos mais distraídos que anualmente contamos com trezentos e sessenta e cinco dias (ou seis).

Alvíssaras!, que esta era e foi a grande oportunidade de mostrar trabalho!, e decerto com grande impacto na vida pública lusa se a equipa saísse vitoriosa! (como sucedeu). Na intrínseca depurada opinião presente na planície, o seu apoio à conquista lusa foi essencial e determinante, daí a alegação que as suas faltas ao local normal de trabalho sejam justificadas, por razões de força maior da nação.

Na sua plena consciência está a ideia que, naquela ocasião especifica, trabalho da maior relevância estava a ser feito! Mais do que se estivessem no seu parlamento! Muito mais. O que defendem, com toda a naturalidade, é que o contribuinte pague o apoio que deram à equipa, uma vez que nem todos puderam fazê-lo de facto e esses que faltaram a Sevilha é que incorreram em faltas injustificadas e danosas para o país.

Mas subconscientemente há decerto a explicação própria que essa conquista deu-se em antigo território Mouro, e casa actual do grande irmão Andaluz, contra o Celta bárbaro!, justificando assim a alta representação da mui nobre nação Lusitana por mui dignos embaixadores do cachecol azul e branco. O povo, esse ignorante asco, é que não percebe. Ou parece que não percebe.

BSA