sexta-feira, outubro 08, 2004

Ordem e progresso! - lembram-se?

O caso Marcelo Rebelo de Sousa é mais um dos tantos de um padrão a que nos vimos habituando. Já está analisado de trás para frente e de frente para trás; continuará à lupa; mas encaixa, realmente, num padrão – para nós – moderno: um episódio curto leva-nos à reflexão sobre o estado das fundações, sendo a dinâmica posterior a de procurar uma resolução que vá além do problema imediato (consciente ou inconscientemente). Enfim, um padrão que recorda frases do nosso imaginário, popular ou não, do tipo “a gota que faz transbordar o copo”, ou mesmo “nem mais um soldado para as colónias” (brevemente, acrescentaremos certamente outra à lista: “nem mais um jovem para o dia da defesa nacional” – contas de outro rosário; lá irei ...).
Em qualquer democracia existem pressões sobre a comunicação social, provindas dos mais diversos focos de poder, e com particular intensidade do poder económico e do poder político. Qual delas a pior, venha um ministro e escolha, tanto mais que andam sempre associadas e normalmente uma pressiona pela outra. Isso não é, pois, mais preocupante hoje do que ontem.
O que é mais preocupante hoje do ontem é a falta de noção – noção essa que é inevitavelmente cultural e moral – por parte dos titulares do poder político, do que deve ser efectivamente o poder político. Se o poder económico não tem questões de esquizofrenia para resolver (vive, pois, em paz consigo mesmo e dorme bem), o poder político deve tê-las, sendo suposto que tenha insónias.
É evidente que a nossa democracia está doente, como tantas outras, e que casos como este não podem ser minimizados, não apenas pelo que são mas também pelo virão a ser if unchecked. E não é, naturalmente, pelo facto de já termos tido sarampo que nos preocupamos menos em ter papeira em adultos caso a não tenhamos tido quando crianças, muito pelo contrário.
Se se vier a demonstrar aquilo de que se desconfia, e independentemente das intenções do Professor – de más e boas está isto cheio -, governo abaixo. E abaixo o seguinte se necessário for. Sempre soubemos, no fundo, que havíamos de aqui chegar.