É o que se chama "ter um Aznar de Zapatero"...
Desenganem-se aqueles que afirmam que a vitória do PSOE sobre o PP foi a vitória "da verdade sobre a mentira", da "paz sobre a guerra", da "sociedade sobre o neo-totalitarismo".
E desenganem-se aqueles que perguntam pela ETA e pela AL-QAEDA, pelos responsáveis do massacre, pelos culpados.
A pergunta que deve fazer-se não é porque ganhou o PSOE e não o PP; porque perdeu o PP e não o PSOE. A pergunta que deve fazer-se é: porque não foram adiadas as eleições?
Deixando de parte os partidos mais pequenos - com mil perdões, pois é grande a questão -, porque estavam ambos, PSOE e PP, convictos de que manter as eleições no dia aprasado era a melhor opção para a democracia espanhola? Terá sido um fulgor instantâneo e verdadeiro de fazer finca-pé no funcionamento rijo das instituições? Impossível.
Em primeiro lugar, qualquer observador minimamente atento - mesmo qualquer pessoa de bom senso - prevê que, depois do sucedido e em cima do acontecimento, não poderia ser aceitavelmente racional qualquer voto no dia 14 de Março. Nem é necessário explorar cambiantes de psicologia social: qualquer acontecimento emocional que movimente e motive massas rouba racionalidade ao indivíduo, principalmente porque aumenta a ilusão de que a massa tem identidade, baralhada entre o "eu" e "os outros".
Em segundo lugar, ambos PSOE e PP demonstraram estar acima de uma certa emocionalidade quando adoptaram determinadas medidas ou posturas públicas: designadamente, o PP insistindo na culpabilização da ETA, e o PSOE resguardando-se nos comentários e ocultando Zapatero. Não pode, pois, afirmar-se que não houve frieza bastante no seio de qualquer dos partidos (o que não significa que não tenha havido desnorte).
O que seria verdadeiramente democrático? Esperar, acalmar, e não fazer de um acto que deve ter o mínimo de objectividade uma falsa epifania da democracia. Há muitas, é certo. E pode perguntar-se o que há de novo nisto?
O problema é, pois, a resposta: não há nada de novo. Tanto o PSOE como o PP viram de imediato as possibilidades políticas do acontecimento, da carnificina. O que salvou uns e condenou os outros é apenas isto: enquanto os outros tiveram que actuar - mal - porque tinham o poder nas mãos, os uns não tiveram que fazer nada a não ser proclamar a democracia. Estranha simbiose esta...
Vitória da "verdade sobre a mentira"? Da "paz sobre a guerra"? Da "sociedade sobre o neo-totalitarismo"? Não, meus caros. Apenas vitória de um partido sobre o outro, "the old-fashioned way".
Quando Nixon concorreu contra Lindon Johnson, este estava prestes a assinar a paz no Vietnam. Gente próxima de Nixon deslocou-se ao sueste asiático com uma mensagem tão específica quanto no interesse do povo americano: "Esperem por Nixon - com ele conseguem um acordo de paz mais vantajoso". E morreram mais uns milhares de soldados.
O jogo continua.
E desenganem-se aqueles que perguntam pela ETA e pela AL-QAEDA, pelos responsáveis do massacre, pelos culpados.
A pergunta que deve fazer-se não é porque ganhou o PSOE e não o PP; porque perdeu o PP e não o PSOE. A pergunta que deve fazer-se é: porque não foram adiadas as eleições?
Deixando de parte os partidos mais pequenos - com mil perdões, pois é grande a questão -, porque estavam ambos, PSOE e PP, convictos de que manter as eleições no dia aprasado era a melhor opção para a democracia espanhola? Terá sido um fulgor instantâneo e verdadeiro de fazer finca-pé no funcionamento rijo das instituições? Impossível.
Em primeiro lugar, qualquer observador minimamente atento - mesmo qualquer pessoa de bom senso - prevê que, depois do sucedido e em cima do acontecimento, não poderia ser aceitavelmente racional qualquer voto no dia 14 de Março. Nem é necessário explorar cambiantes de psicologia social: qualquer acontecimento emocional que movimente e motive massas rouba racionalidade ao indivíduo, principalmente porque aumenta a ilusão de que a massa tem identidade, baralhada entre o "eu" e "os outros".
Em segundo lugar, ambos PSOE e PP demonstraram estar acima de uma certa emocionalidade quando adoptaram determinadas medidas ou posturas públicas: designadamente, o PP insistindo na culpabilização da ETA, e o PSOE resguardando-se nos comentários e ocultando Zapatero. Não pode, pois, afirmar-se que não houve frieza bastante no seio de qualquer dos partidos (o que não significa que não tenha havido desnorte).
O que seria verdadeiramente democrático? Esperar, acalmar, e não fazer de um acto que deve ter o mínimo de objectividade uma falsa epifania da democracia. Há muitas, é certo. E pode perguntar-se o que há de novo nisto?
O problema é, pois, a resposta: não há nada de novo. Tanto o PSOE como o PP viram de imediato as possibilidades políticas do acontecimento, da carnificina. O que salvou uns e condenou os outros é apenas isto: enquanto os outros tiveram que actuar - mal - porque tinham o poder nas mãos, os uns não tiveram que fazer nada a não ser proclamar a democracia. Estranha simbiose esta...
Vitória da "verdade sobre a mentira"? Da "paz sobre a guerra"? Da "sociedade sobre o neo-totalitarismo"? Não, meus caros. Apenas vitória de um partido sobre o outro, "the old-fashioned way".
Quando Nixon concorreu contra Lindon Johnson, este estava prestes a assinar a paz no Vietnam. Gente próxima de Nixon deslocou-se ao sueste asiático com uma mensagem tão específica quanto no interesse do povo americano: "Esperem por Nixon - com ele conseguem um acordo de paz mais vantajoso". E morreram mais uns milhares de soldados.
O jogo continua.
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