quarta-feira, julho 30, 2003

Privacidades e outras coisas privadas

Está na hora. Parafraseando Adriana Calcanhoto, “vamos revelarmo-nos”. Vamos lá a saber, para cada um de nós, quem é o quê, de que é que efectivamente gosta, ... e, bom, a que Supremo Tribunal gostaria de pertencer.
Não faltaria mais nada, não ? Pertencer-se, a bem dizer, a uma minoria – ou a várias – e guardar isso bem guardadinho!? Mas os amigos sabem, não é ? E só dizem a quem interessa, não é ?
Não Senhor! Tudo cá para fora. Se és homossexual tens o dever de o expor. Se és nobre tens o dever de o dizer. Claro! É que a maioria não é nada disso, e se queres “dizer a justiça” mas não alinhas com a maioria, pelo menos terás que o afirmar. Caso contrário, somo todos enganados, não? Um dia chega-te o meu recurso e eu sei lá o que motiva a tua decisão ? A justiça da maioria é que não é de certeza – não lhe pertences, porra!
O quê ?!? Eu ? O que é que eu interesso nesta história toda ? A minha história ? O que é que eu poderia ter a dizer ? Não sou político, não sou juiz, não sou juiz-político nem político-juiz! Esses é que têm a obrigação da moralidade. Mais: de a declarar, como as continhas todas que para aí andam escondidas e os rendimentos que afinal o não são! Agora eu ... eu cá preciso é de modelos, que eles dêem o exemplo.
Ah ?! Vergonha ? Vergonha de quê ? Vergonha era viver num país onde só se sabe do que é que eles gostam quando já é tarde, pá ! Quando já nos deram com força, não é ? Isto hoje ninguém sabe ... Não me digas que achas bem que um tipo seja juiz, para mais do Supremo, sem a gente saber o que ele é !? Brinca, brinca, qualquer dia bate-te à porta ...
Deixa essa conversa do meu filho, pá ! Isso é outro assunto que não é para aqui chamado. Querias o quê ? Metia-se entre mim e a mãe e depois ia p’rós copos sem mais nem ontem ? Se ao menos gostasse de gajas eu falava-lhe a sério, mas nem nisso saiu a mim! Só se perderam as que não dei. Ao menos tirei-lhe da cabeça essas ideias de ser juiz e fazer o curso do não sei quê ... Já viste a vergonha que eu passava ? Ficava tudo a saber e eu tinha que ir beber a bica a Cacilhas.
É verdade, pá. Aquela coisa de sexta-feira ..., não comentes isso com ninguém. É que nós não temos que declarar isso no emprego, e assim ..., bem, escusam de ficar a saber.

TRISTE SINA A NOSSA: uns não prestam na privacidade, outros sentindo-se compelidos a autodevassá-la porque os outros não prestam na privacidade. E assistimos impávidos porque ainda não nos sentimos obrigados a mais do que vamos fazendo.