sexta-feira, agosto 08, 2003

Asno Passadismo

A gesta do pasquim da Avenida da Liberdade continua. É caso para afirmar que naquelas paredes do papel centenário o directório linguajeiro e verborreico é mesmo o do «charlatanismo de pacotilha». Ora escreve um, ora escreve outro, e com esta ideia pseudo primeiro-mundista lá nos querem passar sempre a ideia de um povo atrasado e burro.

Escreve o articulista António Ribeiro Ferreira, iluminado ainda que apenas pela velinha corporativista, que os peditórios e as ondas de solidariedade que os Portugueses estão a mover para ajudar a tragédia dos incêndios são, e passo a citar:

«(...)marca nacional, bem enraizada, que resiste a tudo e todos, até à globalização, e que ninguém tem a coragem de eliminar de uma vez por todas da sociedade(...)»


«(...)a multiplicação de iniciativas desta natureza, tantas vezes acarinhadas por entidades oficiais, é um sinal de atraso de uma sociedade que nem consegue dar respostas organizadas e eficazes a tragédias, sejam naturais ou não. Já vai sendo tempo de se acabar com o culto da pedinchice no Portugal do século XXI.»

1. Esta é a perspectiva duma visão do Estado omnipotente e omnipresente onde não há espaço para associações de indivíduos se organizarem fora do crivo centralizador estatal: é própria de regimes totalitários e exemplos históricos abundam mormente a Leste da Europa; mas como estamos em Portugal esta é também, paradoxalmente, uma ideia salazarista onde ninguém se pode mexer para nada pois só o Estado pode actuar: a peçonha continua empregnada em muitas mentalidades que pensam que o Estado é o grande salvador da pátria. A resposta a estas ideias foram 5,000,000 de Portugueses que emigraram.

2. Por outro lado, em Portugal, o Estado nunca conseguiu dar uma ajuda eficaz aos emergentes problemas, muito menos sem a colaboração estreita da sua população. Afirmação básica mas necessária para o articulista: fazem parte do Estado a População, o Território e o Direito. Para além do mais está provado que quanto mais a livre iniciativa aflora na sociedade (isto é: se torna menos estatizante), mais desenvolvida consegue ser: a falsa pretensão que o Estado consegue resolver tudo está gasta e há muitos anos.

3. Ao «culto da pedinchice» chama-se noutros países «solidariedade», «financiamento», «ajuda humanitária», ou se quiserem ainda «fundo estrutural». Nos Estados Unidos da América, os candidatos presidenciais (republicano e democrata) fazem essa pedinchice para patrocinarem as suas campanhas eleitorais; no Reino Unido ainda há pouco na Sky News vi a Cancer Research UK estar a pedinchar para conseguirem combater melhor o flagelo; na Alemanha, na França, no Canadá, no Japão, etc. a toda a hora aparecem pedinchices que concomitantemente com as entidades estatais ajudam os países a serem considerados desenvolvidos, Primeiro Mundo. Na opinião do articulista isso só nos rebaixa e só nos atrasa.

4. Os bombeiros. Estas são as associações que ainda não estão completamente politizadas e estatizadas para ainda funcionarem como deve ser e os únicos a irem para o terreno salvar vidas e bens. Quando o Estado e os políticos intervêem tudo fica estragado: veja-se a polémica da nomeação do director do Serviço Nacional de Bombeiros. Os bombeiros a mil custos privados e pessoais e nunca estatais ainda vão mantendo um dos melhores serviços públicos de Portugal, portanto faça o favor de não dizer alarvidades.

Foi por estas e por outras que deixei de comprar o Diário de Notícias, já vai para muito.