Fogos Não Fátuos
Durante esta época veraneia em que milhares de conterrâneos acodem às praias para se banharem nos esgotos produzidos durante todo o ano, existem outros milhares que acorrem às serras para regarem as labaredas incandescentes dos múltiplos fogos.
Como não podia deixar de ser a comunicação social e os responsáveis públicos pululam de fogo em fogo na procura de causas e culpados vários para a dizimação ardente do território e do chamado ouro verde, que ainda vamos possuíndo.
Estranho é que apenas se discuta os meios de combate aos fogos enquanto tudo arde lá fora. Aborda-se também porque não existe uma mais apertada vigilância às florestas Portuguesas e fala-se que seiscentos mil proprietários privados não estão isentos de culpa.
Mas a realidade pode ser bastante difusa: quando nesta altura se crucifica o Ministério da Administração Interna deve-se todavia atentar, durante todo o ano e agora também, para outros departamentos: Ministério do Ambiente e Ministério da Agricultura.
O que é facto é que estes dois últimos criam figuras jurídicas, muitas sobrepostas umas às outras, que consequentemente tornam o território inoperante e abandonado, elas são: Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional, Rede Natura (esta de Bruxelas), Parques Naturais e Nacionais, Parques Florestais, etc, etc.
Exemplo: Parque Natural de Sintra-Cascais. Fazem-se inúmeros estudos da flora e da fauna ao mais ínfimo pormenor mas a componente humana que sustentou este durante milhares de anos é totalmente ignorada. Para todos os efeitos a acção do Homem na visão dos iluminados representantes do Instituto de Conservação da Natureza (Instituto dependente do Ministério do Ambiente) é execrável, incipiente e pretenciosa.
Sou completamente a favor da existência de Parques Naturais e mormente daquele referido. Posso dizer que conheço, senão palmo a palmo, pelo menos passo a passo ou pedalada a pedalada. Esses ilustres senhores não o conhecem: elaboram planos de régua e esquadro fechados em gabinetes com ar condicionado e o resultado, excelente ou péssimo, vincula todos os demais.
Conhecendo eu e amando eu este território, como disse, estou à vontade para dizer: na floresta da serra e no pinhal da planície, em Sintra, aquilo que encontramos com mais facilidade é lixo, lixo e mais lixo. Simplesmente pasmo, por vezes: sofás velhos, colchões, armários, latas de tinta, entulhos vários, carcaças de automóvel, pneus, etc, etc. Noutra vertente as fogueiras das sardinhadas em qualquer local dão origem ainda a mais lixarada e fogos outros.
Para além disso a limpeza terrena de todo o combustível fossil deixou-se praticamente de fazer. Antigamente grupos de indivíduos passavam meses a fio a retirar todo esses depósitos provocados pela existência de árvores. A isso chamava-se prevenção de fogos e era feito no Inverno. Hoje essas práticas deixaram-se de realizar. Mas expliquemos porquê.
Meu conhecido X., morador em Y., perto de Sintra, chamou o comandante dos bombeiros locais para averiguar da sua segurança no que respeitante a fogos na zona. O bombeiro ao verificar a sua proximidade com vastos pinhais abandonados afirmou que este vivia «junto de um fogareiro». Esse meu conhecido prontificou-se, às suas custas pessoais, a limpar o seu terreno e os dos seus dois vizinhos contíguos para, na sua consciência, deixar de viver perto de «fogareiros».
Quando já estava tudo mais ou menos acertado com pessoal para essa tarefa de limpeza surgem elementos pertencentes ao Parque Natural afirmando que «se tocava num metro quadrado para essa limpeza seria evidentemente multado». Tudo bem, é preciso autorização prévia, pensou. Requereu essa mesma. Passados dois anos ainda está à espera. Continua a viver no tal «fogareiro».
Infelizmente exemplos como este abundam, similares ou não, o problema é sempre o mesmo: inoperância da administração nacional e local na real prevenção do seu território e população. A burocracia e a falta de vontade de muitas instituições públicas aniquilam as sinergias locais.
Não admira portanto que o Inferno suba à Terra sob a forma de fogo: o Paraíso está a dormir.
BSA
Como não podia deixar de ser a comunicação social e os responsáveis públicos pululam de fogo em fogo na procura de causas e culpados vários para a dizimação ardente do território e do chamado ouro verde, que ainda vamos possuíndo.
Estranho é que apenas se discuta os meios de combate aos fogos enquanto tudo arde lá fora. Aborda-se também porque não existe uma mais apertada vigilância às florestas Portuguesas e fala-se que seiscentos mil proprietários privados não estão isentos de culpa.
Mas a realidade pode ser bastante difusa: quando nesta altura se crucifica o Ministério da Administração Interna deve-se todavia atentar, durante todo o ano e agora também, para outros departamentos: Ministério do Ambiente e Ministério da Agricultura.
O que é facto é que estes dois últimos criam figuras jurídicas, muitas sobrepostas umas às outras, que consequentemente tornam o território inoperante e abandonado, elas são: Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional, Rede Natura (esta de Bruxelas), Parques Naturais e Nacionais, Parques Florestais, etc, etc.
Exemplo: Parque Natural de Sintra-Cascais. Fazem-se inúmeros estudos da flora e da fauna ao mais ínfimo pormenor mas a componente humana que sustentou este durante milhares de anos é totalmente ignorada. Para todos os efeitos a acção do Homem na visão dos iluminados representantes do Instituto de Conservação da Natureza (Instituto dependente do Ministério do Ambiente) é execrável, incipiente e pretenciosa.
Sou completamente a favor da existência de Parques Naturais e mormente daquele referido. Posso dizer que conheço, senão palmo a palmo, pelo menos passo a passo ou pedalada a pedalada. Esses ilustres senhores não o conhecem: elaboram planos de régua e esquadro fechados em gabinetes com ar condicionado e o resultado, excelente ou péssimo, vincula todos os demais.
Conhecendo eu e amando eu este território, como disse, estou à vontade para dizer: na floresta da serra e no pinhal da planície, em Sintra, aquilo que encontramos com mais facilidade é lixo, lixo e mais lixo. Simplesmente pasmo, por vezes: sofás velhos, colchões, armários, latas de tinta, entulhos vários, carcaças de automóvel, pneus, etc, etc. Noutra vertente as fogueiras das sardinhadas em qualquer local dão origem ainda a mais lixarada e fogos outros.
Para além disso a limpeza terrena de todo o combustível fossil deixou-se praticamente de fazer. Antigamente grupos de indivíduos passavam meses a fio a retirar todo esses depósitos provocados pela existência de árvores. A isso chamava-se prevenção de fogos e era feito no Inverno. Hoje essas práticas deixaram-se de realizar. Mas expliquemos porquê.
Meu conhecido X., morador em Y., perto de Sintra, chamou o comandante dos bombeiros locais para averiguar da sua segurança no que respeitante a fogos na zona. O bombeiro ao verificar a sua proximidade com vastos pinhais abandonados afirmou que este vivia «junto de um fogareiro». Esse meu conhecido prontificou-se, às suas custas pessoais, a limpar o seu terreno e os dos seus dois vizinhos contíguos para, na sua consciência, deixar de viver perto de «fogareiros».
Quando já estava tudo mais ou menos acertado com pessoal para essa tarefa de limpeza surgem elementos pertencentes ao Parque Natural afirmando que «se tocava num metro quadrado para essa limpeza seria evidentemente multado». Tudo bem, é preciso autorização prévia, pensou. Requereu essa mesma. Passados dois anos ainda está à espera. Continua a viver no tal «fogareiro».
Infelizmente exemplos como este abundam, similares ou não, o problema é sempre o mesmo: inoperância da administração nacional e local na real prevenção do seu território e população. A burocracia e a falta de vontade de muitas instituições públicas aniquilam as sinergias locais.
Não admira portanto que o Inferno suba à Terra sob a forma de fogo: o Paraíso está a dormir.
BSA
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