quarta-feira, novembro 12, 2003

The Matrix Metaphors (Reposted)

Após a conclusão da trilogia da matriz criada pelos irmãos Andy e Larry Wachowski (de origem Polaca), cabe agora repensar tudo aquilo que pode estar por detrás do fenómeno. Para além da excelência cinematográfica do argumento matriciano, principalmente no primeiro filme, há que tentar subtrair toda a magnitude de efeitos especiais e rendilhados vários que fazem o espectáculo geral mas que desfocalizam da questão nuclear.

Devo confessar que apreciei os três filmes por inteiro e encaro-os como uma unidade a ser interpretada. Os críticos aplaudiram até à exaustão o primeiro, o segundo gorou as expectativas e o terceiro entrou na categoria de filme a evitar. Acho estrondosa a opinião que apenas o primeiro foi categoricamente excelente. Foi de facto mas os dois subsequentes transportam-nos para a centralidade e originalidade do primeiro.

Ademais houve um único critico cinéfilo, pelo menos que eu encontrasse, que apontou numa direcção que eu já sentira no segundo filme: António Cabrita, do semanário Expresso, escreve o seguinte:

«Confirma-se neste último episódio o sincretismo new age do filme, mas torna-se mais nítida a presença dum fundamento judaico de que a cidade de Zion é ilustração cabal (Sião, a cidade de David e o monte onde se situa o Templo, é um símbolo da literatura profética e cultural que se exprime o Sionismo). Por inerência, para além da sua faceta de entretenimento, é clara no filme uma oclusão do cristianismo e da sua mitologia, evidenciando-se Matrix como um instrumento ideológico. Sabe-se a força do lóbi judeu nos EUA, e o filme, no seu núcleo, apresenta-se como reduto duma escatologia judaica, ávida de simpatia, num momento em que Israel tem um comportamento pouco ortodoxo.»

António Cabrita aflora a questão e coloca uma tónica precisa, no entanto não aprofunda no sentido de transformar The Matrix na existente metáfora mais simples.

Pasme-se ou não: este é o meu entendimento sobre a trilogia criada pelos manos de Chicago. Na essência do filme está a estrutura basilar do Judaísmo como a metáfora crua. Muito subtilmente e com mestria é-nos oferecido esse mundo. Por este aspecto particular torna-se assim numa magnifica ironia, quando eles são acusados de não colocar nenhum momento de (desnecessário) humor no filme.

Meus amigos: nos filmes da Matriz é a história do povo de Israel e a sua religião na sua máxima força. Senão vejamos:

Anderson/Neo: o Messias

Como um comum mortal que se transfigura em Neo, o Messias que está por descobrir, está por chegar, para salvar todo o povo reunido e refugiado em Zion. Como sabem, a religião Judaica ainda anseia pelo seu Messias, uma vez que esta apenas segue o Velho Testamento. Neo assim transforma-se na Fé inquebrantável do Povo Judeu no seu próprio semelhante, entre os humanos e não um ser supra-humano. Primeira metáfora: de entre os indivíduos comuns está o salvador significando que cada um, em si mesmo, pode ser também o Escolhido/Messias.

Nebuchadnezzar: a Diáspora Judaica

Em língua Portuguesa pode-se traduzir (salvo erro) para Nabucodunosor, grandioso Rei Babilónio mas atacado por uma praga de maus sonhos. Nesta nave errante Morpheus (deus grego dos sonhos) e restante equipa andam em busca do Escolhido num desconhecido mundo, ora entrando ora saindo da Matrix, conotados como uma Diáspora errante em busca da salvação do seu povo. (Israel na Era Antiga foi ocupada pela Grécia sofrendo uma forte influência cultural).

Oráculo: A Tora Escrita e a Tora Oral

Nesta penso tratar-se de uma metáfora da Tora (os primeiros cinco livros da Bíblia), o Antigo Testamento, onde se encontra a resposta para as adversidades de cada um. A tradição religiosa. (Tora Escrita). As regras e ensinamentos que os demais comuns devem ouvir, escolher caminhos segundo o seu próprio entendimento e de acordo com aquilo que efectivamente foi dito pelo Oráculo. (Tora Oral) A mensagem dominante desta é fazer crer aos menos iluminados.

Arquitecto: Deus

Deus interpretado como um ser superior, criador das coisas existentes mas também ele próprio a consciência do Homem e por isso dentro deste.

Agente Smith: o Anglo-Saxão

Sendo este uma incarnação do mal, oponente ao Messias que Zion precisa, numa primeira fase devido à origem Inglesa do nome pode querer referir-se ao comportamento dúbio dos Ingleses enquanto potência administrante da Palestina entre as duas Grandes Guerras, uma vez desmembrado o Império Otomano. Por outro lado com a multiplicação dos Smiths quer no segundo quer no terceiro filme como que existe uma acumulação de males todos com um único objectivo: a destruição de Neo e por consequência a não salvação do povo de Israel).

[com Smith mantenho em mim próprio algumas parodoxais interrogações. Nome de origem Inglesa que era dado áqueles que trabalham o Ferro e portanto produtor quer de instrumentos de agricultura quer de armamento...]

Zion: A Terra Prometida

Este é o nome de uma das colinas em Jerusálem e esta representa na Tora a Terra Prometida, lar desejado onde o Templo assume uma posição central.

A Matriz: A (ir)realidade não-judaica

O mundo não judeu, o mundo falso, aparente, artificial, impuro. A realidade alienada, apenas sendo Zion e o seu povo (o povo eleito) e único representante da espécie humana.

As máquinas: a guerra

A metáfora da guerra quer na perseguição ao povo espalhado pelo mundo, quer na criação do próprio Estado de Israel, quer na sua própria manutenção enquanto Estado. A guerra está lá. Desse modo é potente o símbolo de Neo oferecer-se à Guerra como sacrifício e pedindo em troca a Paz oferecida a Zion, à Terra de Israel.

Outra questão fulcral para que considere toda esta história fruto duma interpretação da religião judaica, para além da história do povo de Israel é o seguinte:

No primeiro filme quando Anderson visita pela primeira vez a Oráculo encontra-se numa sala com uma criança que dobra colheres com a mente. Salvo erro esta diz para Anderson que é «apenas uma ilusão, está tudo na tua mente». Este é outro ensinamento Judaico. Senão veja-se nas palavras de um Rabi:

«a imaginação actua como um intermediário. Serve como ponte entre o físico e o espiritual, entre o corpo e a alma. A capacidade para visualizar algo na mente provem do poder da imaginação. Aquilo que visualizamos pode de facto ser um objecto físico, mas a visualização desse objecto na mente é com efeito uma experiência espiritual. A imaginação pode assim ser pensada como um ponto mais elevado no âmbito físico e um ponto mais baixo no âmbito espiritual. Ela é a ponte entre o material e o etéreo.»

Pequena conclusão: senti a nuance de Israel no segundo filme apenas. No primeiro fiquei absorto pela complexa teia argumentativa. Neste terceiro explora-se ainda mais, mesmo futuristicamente, o caminho do povo de David. António Cabrita aflora a questão no Expresso, único local onde vi analogias parecidas. Fiz evidentemente algumas pesquisas pois os meus conhecimentos não são muito vastos em termos de religião Judaica. Aqui está a minha opinião, concorde-se ou não. Aceitam-se criticas ou reparos, claro! Mas pouco alterarei este ponto de vista. Vale?

[PS. Fui atacado por um bombista-suicida auto-intitulado Thoulth (que graçola o detectado nome). Não encontrei nada igual ao que está aqui, nem este texto é por de mais especial. Nada temo, muito menos por plágio.
Obrigado SP.]