Portugalia & Spania
«Cristian chegou a Lisboa cinco dias antes do Natal. Sem dinheiro, sem documentos, sem comer há dois dias. E sem falar uma palavra de português. No bolso, só uma declaração da polícia espanhola a atestar que fora roubado e maltratado em Espanha, quando se preparava para apanhar uma camioneta para Portugal.
Romeno, com 26 anos, um bacharelato em Economia, Cristian rumou a Espanha em busca do futuro. Encontrou maus tratos, trabalho escravo sem pagamento e muitas razões para ter medo. Ao fugir para Portugal, os que o exploravam não perdoaram. Não lhe bateram, mas roubaram-lhe tudo. Incluindo os óculos.
À chegada, sem conhecer ninguém, deambulou por Lisboa até encontrar a fachada do El Corte Inglés. Como falava algumas palavras de espanhol, entrou na esperança de encontrar ajuda. E desta vez teve sorte.
Os seguranças do espaço comercial, sem perceberem patavina do que se passava, resolveram apelar para um superior, Hilário Fernandes, semblante carregado e coração do tamanho do mundo. Já com a noite a cair, percebeu que Cristian, além de fome, não tinha onde passar a noite. Recorreu, telefonicamente, a dois centros de acolhimento da Câmara Municipal de Lisboa. Num não havia responsáveis para tomar decisões; noutro as portas já estavam encerradas. Lembrou-se da Linha Nacional de Emergência Social. Ligou o 144. Uma senhora entediada respondeu-lhe para não se ralar com o problema de Cristian. "Chame a polícia", foi o conselho dado a Hilário.
Desistiu. Pagou o jantar ao assustado romeno, deu-lhe algum dinheiro e levou-o para casa. No dia seguinte entregou-o na igreja do padre ortodoxo Marius Pop, ao Largo de São Mamede ao Caldas. Mas não descansou. Continuou a acompanhar o caso. Tratou dos documentos necessários para Cristian voltar à Roménia, no dia 17. Depois tratará de lhe arranjar um contrato de trabalho para que possa voltar.
Cristian já abre um sorriso e uns óculos novos já lhe brilham em cima do nariz. Hilário tem o semblante ainda mais carregado. E uma raiva surda e justificada contra todas as instituições que falham e obrigam o cidadão comum a substituir-se-lhes.»
Romeno, com 26 anos, um bacharelato em Economia, Cristian rumou a Espanha em busca do futuro. Encontrou maus tratos, trabalho escravo sem pagamento e muitas razões para ter medo. Ao fugir para Portugal, os que o exploravam não perdoaram. Não lhe bateram, mas roubaram-lhe tudo. Incluindo os óculos.
À chegada, sem conhecer ninguém, deambulou por Lisboa até encontrar a fachada do El Corte Inglés. Como falava algumas palavras de espanhol, entrou na esperança de encontrar ajuda. E desta vez teve sorte.
Os seguranças do espaço comercial, sem perceberem patavina do que se passava, resolveram apelar para um superior, Hilário Fernandes, semblante carregado e coração do tamanho do mundo. Já com a noite a cair, percebeu que Cristian, além de fome, não tinha onde passar a noite. Recorreu, telefonicamente, a dois centros de acolhimento da Câmara Municipal de Lisboa. Num não havia responsáveis para tomar decisões; noutro as portas já estavam encerradas. Lembrou-se da Linha Nacional de Emergência Social. Ligou o 144. Uma senhora entediada respondeu-lhe para não se ralar com o problema de Cristian. "Chame a polícia", foi o conselho dado a Hilário.
Desistiu. Pagou o jantar ao assustado romeno, deu-lhe algum dinheiro e levou-o para casa. No dia seguinte entregou-o na igreja do padre ortodoxo Marius Pop, ao Largo de São Mamede ao Caldas. Mas não descansou. Continuou a acompanhar o caso. Tratou dos documentos necessários para Cristian voltar à Roménia, no dia 17. Depois tratará de lhe arranjar um contrato de trabalho para que possa voltar.
Cristian já abre um sorriso e uns óculos novos já lhe brilham em cima do nariz. Hilário tem o semblante ainda mais carregado. E uma raiva surda e justificada contra todas as instituições que falham e obrigam o cidadão comum a substituir-se-lhes.»
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