terça-feira, julho 22, 2003

Escucha, Jose

Jose Antonio Camacho, treinador de um clube de futebol lisboeta, o Sport Lisboa y Benfica, insurgiu-se na comunicação social, com tons agrestes e pouco polidos, ante a ânsia jornalística de saber seus comentários sobre a transferência de um guarda-redes (peço desculpa: portero) para outro clube lisboeta, o Sporting Clube de Portugal.

Transferência com dores de cotovelo pois esse mesmo portero esteve cerca de quinze dias dado como certo no clube que Jose Antonio Camacho representa, contrato supostamente assinado e tudo. Tudo indica que o jogador rejeitou as regalias salariais oferecidas por serem amplamente inferiores às auferidas no anterior clube. Tudo normal: livre escolha do trabalhador em escolher a entidade patronal.

Mas a escamação Castelhana foi centrada nas afirmações do Presidente do Sporting Clube de Portugal quando este afirmou que o dito guarda-redes era ‘o melhor da Europa’ e, sendo este 'já' jogador do Benfica, eram afirmações desnecessárias por parte da superior hierarquia clubistica rival. Deveria ter dito seguramente, uma vez que iria para o Benfica, que era um autêntico cepo da bola. Afinal aquilo que este clube está habituado a ter nos últimos anos.

Não sendo eu um jurista, todavia poderemos aqui no Periscópio-Quatro indicar múltiplos especialistas para resolver essa duplicidade de contratos, e tratar todo o imbróglio em que se meteu o clube leonino com um jogador que já era das aves de rapina. Antecipou-se portanto Jose Antonio Camacho ao afirmar que afinal já não era prioridade essa contratação e preferiria algumas estrelas brilhando no Santiago Barnabéu. Bom gosto nunca fez mal a ninguém.

Estas angústias laborais de quem gostaria de estar era no Real Madrid Club de Fútbol e não no Sport Lisboa y Benfica têm muito que se lhe diga. Efeito imediato são as pessoas desinteressarem-se ainda mais de assistir aos pobres espectáculos, quer no estádio quer mediaticamente, perpetrados por jogadores e treinadores (por vezes de tosca qualidade) que queriam era estar mesmo ‘noutro campeonato’. Parece o mesmo que casar com uma mulher e esta estar a pensar no primeiro namorado, que a beijou há quinze anos no intervalo de Biologia.

Surpreendente quando a Liga Portuguesa de Futebol está classificada em sétimo lugar a nível mundial. Muito surpreendente. Mas parece-me que o Sport Lisboa y Benfica não pertence a esta Liga e Jose Antonio Camacho se calhar já percebeu, senão veja-se: os passes dos jogadores são pertença de um empresário, jogam mas nenhuma mais-valia o clube receberá em caso de transferência; o novo estádio é posse de uma construtora e a venda de bilhetes nos próximos bons anos reverte para esta; e, os terrenos onde se encontra o novo estádio estão hipotecados a várias instituições financeiras. Tudo boas notícias.

A pseudo salvação parece estar na qualificação para a Liga dos Campeões, cuja presença em competições europeias o Benfica já nem se lembra. (nem vamos referir o Campeonato Nacional, prognóstico: vinte anos de jejum!) Caso não consiga a desejada qualificação, gostaríamos muito de aconselhar o seguinte para melhorar a sua moral: Jose: aprende a língua Inglesa que através dos nossos bons ofícios queirosianos talvez se arranje um lugar de adjunto no ‘Teatro dos Sonhos’, em Manchester.

Bem sabemos, Jose, que para os benfiquistas é Deus no céu e tu na terra!, mas não abuses da paciência! Qualquer dia recebes guia de marcha como os teus antecessores. Enquanto o tempo passa, podes sempre continuar a mandar postais para os verde-brancos. VALE!

BSA