A day in a life
Na passada quarta-feira à noite Lisboa estava ao rubro. A vitória sobre a Holanda trouxe toda a gente para as ruas num ambiente tão extraordinário quanto surpreendente.
Os taxistas estavam mais calmos e simpáticos. Regras de trânsito caíram perante normas momentâneas de excepção.
Mas, o mais notável, é que as pessoas falavam e confraternizavam umas com as outras num registo que podemos dizer desconhecido.
Estranhos saudavam-se – e isso já era de esperar – e conversavam uns com os outros como se nessa noite isso fosse permitido e até suposto. Nessa noite, a vitória na bola trouxe-nos muito mais do orgulho nacional, união em torno de uma causa comum; mais do que chamada a portugalidade, que anda na boca de tantos (que brevemente, como em qualquer digestão, passará ao intestino e daí ...), que não se sabe bem o que é e pode até fazer mal à saúde (não consta, aliás, que o Teixeira de Pascoaes tenha sido mais comprado durante o Euro).
Nessa noite, a vitória na bola trouxe-nos uma simplicidade inesperada e desconcertante: as pessoas sabem, a final, divertir-se umas com as outras; falar umas com as outras; esperar umas pelas outras; as pessoas sabem, a final, ser melhores.
O que nos atirou para que nos déssemos dessa forma? Em rigor, ninguém sabe. Será que, no inverso de um rapto que une raptados e raptores que nunca se haviam visto mas contam em cativeiro a desconhecidos os seus medos e os dos seus filhos, nos raptámos uns aos outros sem dar-mos por isso? Ou pura e simplesmente vivemos a ilusão de ser mais genuínos?
O que me tocou – e, se calhar, hipostasiando – foi que nos demos.
Os taxistas estavam mais calmos e simpáticos. Regras de trânsito caíram perante normas momentâneas de excepção.
Mas, o mais notável, é que as pessoas falavam e confraternizavam umas com as outras num registo que podemos dizer desconhecido.
Estranhos saudavam-se – e isso já era de esperar – e conversavam uns com os outros como se nessa noite isso fosse permitido e até suposto. Nessa noite, a vitória na bola trouxe-nos muito mais do orgulho nacional, união em torno de uma causa comum; mais do que chamada a portugalidade, que anda na boca de tantos (que brevemente, como em qualquer digestão, passará ao intestino e daí ...), que não se sabe bem o que é e pode até fazer mal à saúde (não consta, aliás, que o Teixeira de Pascoaes tenha sido mais comprado durante o Euro).
Nessa noite, a vitória na bola trouxe-nos uma simplicidade inesperada e desconcertante: as pessoas sabem, a final, divertir-se umas com as outras; falar umas com as outras; esperar umas pelas outras; as pessoas sabem, a final, ser melhores.
O que nos atirou para que nos déssemos dessa forma? Em rigor, ninguém sabe. Será que, no inverso de um rapto que une raptados e raptores que nunca se haviam visto mas contam em cativeiro a desconhecidos os seus medos e os dos seus filhos, nos raptámos uns aos outros sem dar-mos por isso? Ou pura e simplesmente vivemos a ilusão de ser mais genuínos?
O que me tocou – e, se calhar, hipostasiando – foi que nos demos.
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